segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A partir de um relógio de pulso, de um botão de camisa, de um lençol azul tão claro e de uma ou outra caixa espalhada pelos cantos - completando com suas arestas a parede oca - ela reconstruiu a sua história a dois, quando ela também era ele e versa-vice, ambos em um ato e uma vida, como mandam os preceitos, a sagrada tradição e a paixão mais louca e pagã de que já houve notícia. Sua boca florira em estrelas líquidas ao primeiro encontro - e desde então soube. O dia-a-dia, construído aos poucos contudo intensamente, por talvez milagre não se enquadrara na rotina do beijo com gosto de café, beijo com gosto de feijão e cama dividida, porém não compartilhada. E agora mais nada. A porta se cerrara, suave, e ainda pode ver o contorno dele esvaído a seguir alguma trilha bêbada, da qual não mais retornaria. Sentia seu peito, após a alheia ida sem vinda, não além de caixa toráxica - vazio, vazio. E ainda assim, tanta dor.

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